segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Aderbal Góes, o “Baiano”

As nuvens farfalhavam num balé sincronizado que mal dava para visualizar o pórtico existente após a encruzilhada. Um vulto chega, se apresenta, ouve por alguns segundos o guardião e em seguida adentra a um espaço onde a beatitude se faz presente como o sangue em nossas veias.

Leva a mão em concha como que protegendo o lado direito da boca e grita:

 _Buck Jones!

 _Urso Branco!

_Por acaso vocês estão aqui? 

Ao longe por entre as flores aparece um homem vestido de branco, com o cabelo e barba em igual cor, acompanhado de outro, grande e de olhos azuis, muito simples no vestir, com um chapéu da folha da palma toquilla que cresce nas regiões costais do Equador.

Caminham lentos.

Ao aproximarem abrem os braços e exclamam:

 _ É você Aderbal?

_Sim! Quem poderia ser?

_ Como você conseguiu entrar aqui, Baiano?

_ Ôooo Jairo, você nem imagina. Assim que me “enquadrei” ao guardião, este disse que Deus havia autorizado minha entrada sem qualquer tipo de triagem, porque eu fui um dos que nunca O incomodou lá embaixo, e mais, nunca levei seu Santo nome em vão. Eu era ateu. Lembra?

_Mas doutor Aderbal, o que aconteceu?

_ Ô Zeid, você se lembra de que eu tinha feito em Rio Preto pontes de safenas, pinguelas, mata-burros e tudo mais. Pois bem! Entupiu tudo! Uma desgraça!

_Doutor Aderbal, aqui não pode falar esses nomes. O senhor tem que acostumar. É diferente, aqui é o Céu, asseverou Zeid.

_Ôooo Jairo era só o que me faltava, o Zeid de diácono aqui no Céu.

_Mas e o Gir? Como está? Perguntou Jairo.

_A mesma merda! Até pior. Nem queira imaginar!!!

_Mas me digam onde estão os outros: o Ene Sab, o Chiquito Maia, Rômulo, Paulo Afonso, Nenê Costa, João Feliciano, o Alberto, esse pessoal todo?

_Estão acolá, vamos... Chamou Jairo.

Olhem aí! Mainha e painho!!!

_Venha cá meu pequeno. Deixe-me novamente tê-lo em meus braços, meu menino. Quero sentir o seu cheiro, afagá-lo, compartilhar do seu calor. Dizer o quanto mainha está orgulhosa de você. Vem!!!

No abraço da mãe olha para o pai e diz: _E o senhor, velho Aristóteles! Encontrá-lo por aqui?

_É Aderbal, eu que lhe ensinei que a maior maravilha do Universo era o nosso cérebro. Dizia-o tão poderoso que criou os deuses pela teologia e vai dissolvendo-os paulatinamente pela sociologia. Eu que lhe ensinei que Deus surgiu quando o macaco humanizou-se e entendia o seu desaparecimento no apogeu da Ciência. Dizia-lhe ser a fé uma convicção, portanto, poderia ser de ordem teológica ou científica. A primeira imaginária nos levando a conclusões absurdas; a segunda, real, que acabaria nos conduzindo à luz da verdade. Somente consegui enxergá-Lo na extensão do teologismo humano, mesmo falando sempre em nome da Ciência. Você Aderbal, é matemático. Sim! No engenheiro existe o matemático. E como matemático, no entendimento do filósofo Esse Capelli, você não pode negar a existência da incógnita no conjunto equacional, pelo simples fato de desconhecê-la. Pelo contrário, usando o raciocínio lógico, você tem necessidade de sua existência e utilização para solucionar a equação, pois sem a existência da incógnita, mesmo desconhecida, a solução equacional seria impossível. Assim, temos que Deus é a grande incógnita da equação universal, que mesmo desconhecido, deve existir, para que possamos encontrar as respostas sugeridas pelo grande dilema da vida.

_É painho... Disseram-me isso, logo antes da partida.

_Venha, dê um abraço nesse velho e orgulhoso pai.

Por uma avenida florida caminharam em busca dos que viajaram antes do combinado.

Uma flor é uma flor. Sempre! Onde quer que esteja. Uma pedra nem sempre será uma pedra, se uma flor viceja. Ensina o poeta César de Araujo.

Luiz Humberto Carrião.

5 comentários:

  1. Grande Dr. Aderbal Góes. Nacional, congresso, acampamento, "seu" Ramos, Madureira, cinema de madeira, revistas pornográficas no escritório de madeira, barulho de obras, poeira... te fazem lembrar alguma coisa? Claro, certamente. Não sei quanto ao Sr. mas este foi parte do cenário dos anos mais felizes que vivi. Bem, de mim não vai se lembrar. Pio, contínuo, na felicidade do meu primeiro emprego e primeiros salários. Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  2. Que chato. Fiquei chocado ao ler a 2a. pg e saber da morte do ilustre Aderbal. Gostava dele. Perdemos muito. Abraço aos familiares.

    ResponderExcluir
  3. Gostei muito do Blog Parabéns virei leitor já coloquei nos favoritos grande blog com muita informação 100%

    Embriões Gir
    http://www.estanciatamburil.com.br

    ResponderExcluir