terça-feira, 25 de setembro de 2012


Alguns esclarecimentos

Não se trata de uma simples rejeição a uma gestão empreendida na Associação Goiana dos Criadores de Gir, mais conhecida como GirGoiás, entidade promotora da raça zebuína Gir, ‘originária da Planície que lhe empresta o nome, na região de Kathiavar, na Índia’. Vai muito, além disso. O ‘chorôrô’ se prende à primeira alternância real de poder na entidade em seus 44 anos de atividade.

O que ninguém imaginava aconteceu. Numa reunião o chefe determinou: _agora é a vez de fulano. Na próxima será você. Está decidido! Esse posicionamento não soou bem aos ouvidos de um dos presentes. Arregaçou as mangas. Formou uma chapa e se colocou a disposição dos associados.

Só que, como em todas as instituições associativas do Brasil, o número de membros de uma diretoria vai muito além do imaginável. Há que se contemplar todos os compadres e amigos. A ‘situação’ desgastada não conseguiu formar uma chapa, e numa saída ‘honrosa’, desistiu da disputa.

Representantes do atraso político, a chapa situacionista também trazia na algibeira o pavor da palavra ‘disputa’ quando o assunto era eleição. Ao longo desses 44 anos o que prevaleceu foi a indicação de uma chapa escolhida a dedo e sua homologação pelo grupo.

Logo de saída uma surpresa. A prestação de contas da gestão anterior (situacionista) não foi aprovada pela Assembleia Geral Ordinária reunida para esse fim que, estipulou um prazo de 30 dias para sua apresentação. Ao que se sabe, não ocorreu.

O carro chefe da entidade é um Programa de Melhoramento Genético da Raça em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), unidade gado de leite, que trás um viés interessante:   preferência na seleção dos animais inscritos, àqueles cuja ancestralidade ainda não foi testada em avaliações similares. Em decisão recente estabeleceu-se que, depois de preenchida as vagas daqueles, é que estes poderão ser inscritos. 

No ano de 2012, durante a atual gestão, estava prevista a divulgação dos touros pertencentes à 1ª bateria, porém, até meados de 2011, os dados de campo não haviam sido remetidos à Embrapa (foram na atual gestão). Todavia, em correspondência a entidade, o coordenador do Programa de Melhoramento Genético (leia-se Embrapa) comunicava a impossibilidade de divulgação dos resultados daquela bateria em função de ‘algumas inconsistências de pedigree cujas causas ainda não foram identificadas e estimativas de herdabilidade igual a 0.47, valor muito acima do registrado na literatura nacional e internacional para essa característica’. O que significa isso? Para quem sabe ler um pingo é letra. Todavia, a Embrapa propôs empenho na ‘organização do banco de dados’ e tão logo tivesse ‘condições de realizar a avaliação dos touros de forma precisa’ seria ‘agendada data e local para publicação’.

Apesar da consciência da necessidade de prestação de contas para a efetivação do contínuo contábil; das consequências ao Teste de Progênie pelo não encaminhamento em tempo hábil dos dados de campo àquela unidade de pesquisa; a inconsistência desses dados, inicia-se uma caçada ao então presidente nas redes sociais pelo ex-presidente, bem como, por pessoas alheias à diretoria, à própria entidade, e, outras delas, estabelecidas fora do Estado de Goiás sem qualquer vínculo com a mesma. Exigiam a publicação dos resultados da primeira bateria como se a responsabilidade coubesse a atual diretoria. A prestação de contas pelo presidente, que, impossibilitado dentro do contínuo contábil, a fez de seu período, em atendimento ao Estatuto Social, através de AGO em 29 de maio de 2012.

Diante das insistências, em Nota de Esclarecimento veio a público, através de documentos, desnudando a realidade sobre o Teste de Progênie e as providências judiciais tomadas com referência a prestação de contas da gestão anterior, oportunidade em que publicou a pedido de um diretor (Caio Sandro) a Ata da AGO que aprovara as contas referentes ao seu período.

Inicia-se então uma campanha de desconstrução da entidade. O porta-voz (ex-presidente) atuando na rede no sentido de fazer crer uma crise de dimensões estratosféricas na entidade; outros, se reaproximando da estrutura de antanho renunciando a seus cargos de diretores da atual gestão e fazendo disso verdadeiro carnaval; solicitações no sentido de que os criadores que haviam contratado os serviços de avaliação no Teste de Progênie não efetuassem os pagamentos; a outros, que retirassem os touros do Teste; aos compradores de animais no leilão realizado ao final do ano de 2011, que não pagassem as parcelas; desdenho à Prova de Produção de Leite a Pasto tomando como referência outra similar; agressões verbais, calúnias, difamações passaram ser armas utilizadas sem escrúpulo algum.

Se algum proprietário de touro da 1ª bateria se sente lesado financeiramente, como já foi ventilado pelas redes sociais, por que não recorrer à justiça para reaver seus prejuízos?

Se algum associado se sente lesado pela atual gestão, por que não esperar a prestação de contas judicial (da gestão anterior) para fazer sua cobrança dentro do contínuo contábil? Fala-se de dinheiro deixado em caixa, mas por acaso apresentaram as dívidas então existentes?

Num primeiro instante o ex-presidente tentou uma aproximação com a atual diretoria se oferecendo como colaborador na revista. Recusado passou a criticá-la até que o sucesso alcançado no Brasil e no exterior calou a sua boca. Mas não satisfeito, abriu uma campanha no sentido de bloquear o faturamento de sua sustentabilidade.

Escreve como se houvesse de maneira digna, prestado as contas de sua gestão; como se houvesse remetido para a Embrapa os dados de campo do Teste de Progênie durante a sua gestão; como se nesses dados houvesse consistência a ponto de uma avaliação de forma precisa. Chega ao absurdo de tentar colocar a ‘sua verdade’ sobre a seriedade de um documento da Embrapa; recentemente, veio a publico afirmar que nunca falou de seus antecessores, porém, no mesmo texto ‘queima’ o ex-presidente e seu antecessor, pesquisador da Embrapa Emílio Maia, ao afirmar que este lhe deixou uma dívida de 50 mil reais, ao tempo em que cria um factoide ao lançar um possível candidato à presidência nas próximas eleições.

Como disse no início, não se trata de uma simples rejeição a uma gestão dentro da GirGoiás, e sim, o inconformismo de ter sido derrotado por um neófito, que a todo instante dizia ainda estar no ‘cueiro’ em termos de Gir, ao contrário do ex-presidente que se coloca como o mais competente jornalista especializado na raça; o mais competente gestor desse país. Como? Não conseguiu ao menos formar uma chapa! Nem questiono sobre a possibilidade de fazer (eleger) o seu sucessor. Por que não fala o ex-presidente sobre maneira pela qual tentou entrar na mesa diretora da ABCZ? Eu, derrotada? Sim! Mas com a coragem e determinação de me apresentar para a disputa. Não busquei as portas do fundo através de meios escusos.  Por que não fala o ex-presidente do repugno por parte da atual diretoria da ASSOGIR quando tentou viabilizar-se candidato a presidente? Bem ou mal, eu presidi a entidade por dois mandatos.  E quanto a GirGoiás, por que não encabeça uma chapa e se candidata nas próximas eleições? Não deixa de ser um momento único para que o senhor (ex-presidente) venha dizer ao Brasil que é detentor da ‘verdade’; que os giristas o respeitam; que o senhor é quem está correto, e nós não!

Finalmente, me reporto aos meus pares (diretores), associados e simpatizantes da entidade goiana para que não deem importância ou resposta aos escritos do senhor ex-presidente, que busca desesperadamente justificar o injustificável.   

Leda Ferreira Góes
setembro, 2012

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Aderbal Góes, o “Baiano”

As nuvens farfalhavam num balé sincronizado que mal dava para visualizar o pórtico existente após a encruzilhada. Um vulto chega, se apresenta, ouve por alguns segundos o guardião e em seguida adentra a um espaço onde a beatitude se faz presente como o sangue em nossas veias.

Leva a mão em concha como que protegendo o lado direito da boca e grita:

 _Buck Jones!

 _Urso Branco!

_Por acaso vocês estão aqui? 

Ao longe por entre as flores aparece um homem vestido de branco, com o cabelo e barba em igual cor, acompanhado de outro, grande e de olhos azuis, muito simples no vestir, com um chapéu da folha da palma toquilla que cresce nas regiões costais do Equador.

Caminham lentos.

Ao aproximarem abrem os braços e exclamam:

 _ É você Aderbal?

_Sim! Quem poderia ser?

_ Como você conseguiu entrar aqui, Baiano?

_ Ôooo Jairo, você nem imagina. Assim que me “enquadrei” ao guardião, este disse que Deus havia autorizado minha entrada sem qualquer tipo de triagem, porque eu fui um dos que nunca O incomodou lá embaixo, e mais, nunca levei seu Santo nome em vão. Eu era ateu. Lembra?

_Mas doutor Aderbal, o que aconteceu?

_ Ô Zeid, você se lembra de que eu tinha feito em Rio Preto pontes de safenas, pinguelas, mata-burros e tudo mais. Pois bem! Entupiu tudo! Uma desgraça!

_Doutor Aderbal, aqui não pode falar esses nomes. O senhor tem que acostumar. É diferente, aqui é o Céu, asseverou Zeid.

_Ôooo Jairo era só o que me faltava, o Zeid de diácono aqui no Céu.

_Mas e o Gir? Como está? Perguntou Jairo.

_A mesma merda! Até pior. Nem queira imaginar!!!

_Mas me digam onde estão os outros: o Ene Sab, o Chiquito Maia, Rômulo, Paulo Afonso, Nenê Costa, João Feliciano, o Alberto, esse pessoal todo?

_Estão acolá, vamos... Chamou Jairo.

Olhem aí! Mainha e painho!!!

_Venha cá meu pequeno. Deixe-me novamente tê-lo em meus braços, meu menino. Quero sentir o seu cheiro, afagá-lo, compartilhar do seu calor. Dizer o quanto mainha está orgulhosa de você. Vem!!!

No abraço da mãe olha para o pai e diz: _E o senhor, velho Aristóteles! Encontrá-lo por aqui?

_É Aderbal, eu que lhe ensinei que a maior maravilha do Universo era o nosso cérebro. Dizia-o tão poderoso que criou os deuses pela teologia e vai dissolvendo-os paulatinamente pela sociologia. Eu que lhe ensinei que Deus surgiu quando o macaco humanizou-se e entendia o seu desaparecimento no apogeu da Ciência. Dizia-lhe ser a fé uma convicção, portanto, poderia ser de ordem teológica ou científica. A primeira imaginária nos levando a conclusões absurdas; a segunda, real, que acabaria nos conduzindo à luz da verdade. Somente consegui enxergá-Lo na extensão do teologismo humano, mesmo falando sempre em nome da Ciência. Você Aderbal, é matemático. Sim! No engenheiro existe o matemático. E como matemático, no entendimento do filósofo Esse Capelli, você não pode negar a existência da incógnita no conjunto equacional, pelo simples fato de desconhecê-la. Pelo contrário, usando o raciocínio lógico, você tem necessidade de sua existência e utilização para solucionar a equação, pois sem a existência da incógnita, mesmo desconhecida, a solução equacional seria impossível. Assim, temos que Deus é a grande incógnita da equação universal, que mesmo desconhecido, deve existir, para que possamos encontrar as respostas sugeridas pelo grande dilema da vida.

_É painho... Disseram-me isso, logo antes da partida.

_Venha, dê um abraço nesse velho e orgulhoso pai.

Por uma avenida florida caminharam em busca dos que viajaram antes do combinado.

Uma flor é uma flor. Sempre! Onde quer que esteja. Uma pedra nem sempre será uma pedra, se uma flor viceja. Ensina o poeta César de Araujo.

Luiz Humberto Carrião.

domingo, 2 de setembro de 2012

O Zebu está de luto, morreu Aderbal Góes



Após complicações cardiológicas faleceu em Goiânia, Aderbal Góes (20.03.1929 – 02.09.2012). Filho de Ana e Aristóteles Góes, criadores de Gir, Guzerá e Nelore na Bahia e São Paulo.  Aderbal Góes era engenheiro civil, pioneiro na Construção de Brasília. Presidiu a Construtora Nacional, responsável pela edificação do Congresso Nacional e Embaixada da França. Herdou do pai a Fazenda e a marca ‘Favela’, na cidade de Barretos, Estado de São Paulo, onde criou Gir e Nelore, este último, oriundo do plantel de Otávio Machado. No Gir, gostava da linhagem “R”. Da cidade de Barretos mudou-se para o Estado de Goiás, com residência na capital e fazenda na cidade de Santa Bárbara, na grande Goiânia. Casado com Leda Góes, ex-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Gir (ASSOGIR), ex-membro do Conselho Técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), atualmente, diretora da Associação Goiana dos Criadores de Gir (GIRGOIÁS). O sepultamento ainda não foi definido.

À diretora Leda Góes e familiares, os sentimentos da diretoria, funcionários e associados da GirGoiás.